sexta-feira, 5 de março de 2010

“OFF TOPIC” Don Melchor. Um Vinho Perfeito, apenas isso.

"Não tenha medo da perfeição. Você nunca vai atingi-la."
Salvador Dalí




Depois das férias desse duplo de escriba e de um longo e tenebroso verão, com temperaturas acima dos 40°C e sensação térmica beirando os 50°C (aliás depois que a imprensa descobriu a tal da “sensação térmica” nunca mais tivemos precisão nas temperaturas) finalmente alguma alma santa desligou a fornalha do Rio de Janeiro e março me chega com um friozinho pra lá de gostoso, convidando ao vinho...

Isso posto, voltemos aos vinhos.

No início de janeiro de 2010 - sob um forte ar condicionado - fui comemorar com o Toni, gestor do meu contrato, a sua renovação por mais dois anos.

Para a ocasião comprei um Don Melchor. Isso mesmo, o lendário Don Melchor. Considerado por muitos o melhor vinho chileno. O vinho que garantiu a fama e fortuna aos cabernets chilenos.






AVALIANDO


Como avaliá-lo sem cair no lugar comum do “Coloração rubi intensa, com fundo acastanhado, frutas vermelhas, herbáceo, pimenta, especiaria, taninos arredondados, corpo aveludado, retrogosto intenso e final longo”? Difícil, muito difícil, mas vou tentar. Estou escrevendo esse artigo em março, o bebi no dia 7 de janeiro, e no entanto, as sensações ainda estão vivas na minha memória, vamos a elas:

A minha expectativa era grande, e com ela, o medo de vê-la frustrada também, mas assim que o experimentei – sem decantá-lo – vi que não havia razão para dúvida: "Eis um excelente vinho!!" Tudo o que se pode esperar de um bom corte com cabernet chileno estava lá, só que incrivelmente equilibrado; Madeira, pimentão, taninos macios, cor, etc, etc.

Ora direis: “-Ah... então ele não passa de um corte de cabernet chileno clássico, só que melhorado?”
Como eu digo pra minha filha: “Na-na-ni-não”. Veja o título, "é um vinho perfeito, apenas isso", mas me deixou com cócegas nos cantos da boca, com vontade de rir e com pena pelo fim da garrafa ao verter o último gole da última taça...

Deveria tê-lo decantado por 40 minutos. A última taça estava muito melhor que a primeira.





VALE A PENA?


Nesse ponto chegam, óbvio, as seguintes perguntas:
Um vinho perfeito vale cinco ou seis vezes mais que um excelente vinho? Vale doze vezes mais que um bom vinho quotidiano de trinta pratas?

Aí a resposta muda um pouco e depende do tamanho da sua renda, do quanto o vinho vale na sua vida e se há um bom motivo para celebrar ou mesmo o belo fato de estarmos vivos.

Outro aspecto é o custo. Não há bom vinho por 10 reais, simplesmente porque esse valor não cobre as despesas básicas para vinificar um vinho sequer aceitável. É dor de cabeça certa.

Já um vinho excelente exige barris de carvalho francês novo, o envelhecimento em barris gera perdas, as uvas devem ser selecionadas, o terreno deve ser adequado, as vinhas antigas, o amadurecimento das uvas acompanhado por pessoal qualificado, só podem ser colhidas com o ponto certo de concentração de açúcar, a vinificação propriamente dita exige cuidados e - normalmente - a consultoria de um enólogo renomado e caro. Ufa!!

Estamos de acordo dos porquês de um vinho excelente ser caro?*

Bem, junte isso tudo, some séculos de tradição, produção limitada, terrenos pequenos, terroir especial, um público fiel e ávido por essas preciosidades e chegamos aos milhares de dólares alcançados pelos vinhos top da Borgonha e de Bordeaux.


Isso pra não falar das raridades; a famosa safra de 19** do vinho Chateau XPTO ou o carregamento de vinho resgatado - em perfeitas condições - de um naufrágio ocorrido no início do século XVII...

Aí voltando àquela pergunta anterior: Vale essa grana toda? Um vinho desses de R$ 6.000,00 vale 100 vezes mais que um vinho de 60 pratas? Na minha opinião e com o meu orçamento a resposta é não. Mas todos são vendidos, ou seja o mercado discorda... Então vale!!!

Resumo da ópera: Gostei muito do vinho e valeu a pena.

PREÇOS

R$ 348,00 na Americanas.com (Expand)

Eu paguei R$ 325,00 na Bergut Castelo (Ex-Expand) com direito a bebê-lo no delicioso bistrôt deles. Queijos e pães pagos à parte, claro

Vi ontem na CADEG por R$ 286,00. Se for pra beber em casa, vale a pena dar um pulo lá. Com o troco dá pra comprar um ótimo Viu Manet Carmenère Reserva...

Apesar do Don Melchor ser um vinho perfeito, ele apresenta a meu ver alguns problemas bastante sérios:

1º – A sua faixa de preço no Brasil, o impede de ser o meu vinho do dia-a-dia...
2º – Depois de bebê-lo, ficou difícil gostar de alguns vinhos na faixa dos 20 a 30 reais...

* Para quem quiser saber mais o processo de produção dos bons vinhos, recomendo a leitura - agradável - de "O Julgamento de Paris" ou o tijolaço "Atlas Mundial do Vinho"

2 comentários:

  1. Olá Reinaldo... consegui um exemplar pelo preço de U$ 75...depois te conto se concordo ou não com você.
    abraços,
    Marcelo B.

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