sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Os Vinhos do Aniversário

“Borgonha, az pensar bobagem,
Bordeaux, faz falar bobagem,
Já o champanhe te leva a fazer bobagem”

Bebi três vinhos no meu aniversário, a saber:

O primeiro bebi solitariamente na minha última noite com 39 anos – Mouton Cadet. Trata de um legítimo Bordeaux de sangue azul, produzido pelo Chateau Mouton que é um dos cinco Premier Gran Cru Classé de Bordeaux porém produzido em larga escala para o mercado americano. Ou seja, vinho francês com pedigree mas produzido com espírito de Henry Ford... Gostei. É um bom vinho de Bordeaux, vale a grana, mas esperava algo mais. Entretanto o meu espírito estava um pouco nublado pela proximidade dos 40... De qualquer forma não é um vinho capaz de me fazer falar mais bobagem que o habitual.

O segundo foi em família, na hora do almoço - EA - da Fundação Eugênio Almeida. Almoço mais “família tijucana” impossível: Medelhão com Arroz a Piamontese no La Mole da Marquês de Valença. Éramos quatro pessoas e uma garrafa foi pouco. Harmonizou perfeitamente com o medalhão ao molho madeira. O EA foi indicado pelo Renato Machado, como uma boa opção de “preço qualidade”. Concordo.

O terceiro foi à noite, entre alguns poucos amigos: Pinord Clos Torribas Crianza – Tempranillo 2003, único vinho bebido no meio de um rodízio de cervejas (entre elas Bohemia negra, Erdinguer e Petra) mas fez bonito: Paramos todos para degustar o vinho, indicado como um dos cem melhores vinhos do mundo pela Wine Spectator. É um vinho espanhol, da uva tempranillo, muito aromático e um sabor intenso. Um vinho fácil e agradável. Como diria o enochato “com taninos redondos”.

FICHA
Mouton Cadet - R$ 55,69 na Estação do Vinho

Pinord Clos Torribas Crianza por 28,99 no Pão de Açucar e mais ou menos ao mesmo preço na Garrafeira ( R. Dias Ferreira, 259 - Leblon - Rio de Janeiro - RJ. Tel: 21-2512-3336.

EA – Por quase R$ 28,00 no supermercado Mundial, R$ 75,00 no Pão de Açúcar. Ou seja super barato no Mundial.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Reserva ou não reserva? "Marquetingue"...

"O vinho pode iludir o conhecimento dos sábios e fazer os sérios sorrirem e brincarem"
Homero
Quando o vinho ostenta no seu rótulo a palavra "Reserva" ou "Reservado" é de se imaginar um vinho melhor que o ordinário do mesmo produtor, mas e quando o produtor é ordinário e coloca o título reserva no seu ordinário de base? Apenas para vender mais? E quando o mesmo produtor coloca o nome de "Seleção" no seu vinho, digamos, carro popular? No seu Fiat Uno Mille...

Mas nem todo produtor faz isso e alguns até trabalham direitinho no meio dessa prática mercenária. Um bom exemplo? Os vinhos Tarapacá: temos o Cosecha Tarapacá - bem fraquinho, chega a ser ruim, mas por onze pratas no Mundial... Um nível acima, temos o Tarapacá - simplesmente Tarapacá, bem mais palatável, por menos de 20 pratas. Quando então chegamos ao Reserva, por menos de 30 pratas no Zona Sul, temos um vinho que faz bonito e por menos de 50 temos o Gran Reserva, que é um excelente custo benefício. Ao bebermos esses vinhos em série notamos claramente a melhora de um vinho básico ao outro extremo dos vinhos premium. Se o produtor for sério e não usar o "reserva" no rótulo apenas para fazer marquetingue grosseiro, pode ser um bom indicativo de qualidade, pois os vinhos reserva, normalmente passam mais tempo em barril de carvalho, são feitos com uvas selecionadas, etc, etc...

Outro bom exemplo é o português "Porca de Murça". O reserva é bem melhor que o simples... E também custa algo em torno de 30 pratas. Vale a diferença.

Mas existem alguns produtores de miolo mole... que usam a palavra reserva de forma predatória...

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Com Que Uva eu Vou?

Qualquer um que conheça sua própria história certamente conhece seus vinhos.
Arnold Toynbee

Uma das grandes confusões do novato sobre o mundo dos vinhos é o varietal a comprar. Ou seja: “Qual uva?”

Neste final de semana estive em Sampa e comprei no Pão de Açúcar três vinhos de diferentes uvas do mesmo produtor (Finca Flichman, R$ 16,90 em oferta, normalmente custa vinte e poucos...). O objetivo era experimentar um após o outro e verificar as diferenças entre as uvas. Não deu tempo pra fazer a brincadeira, mas fica a sugestão.
As uvas disponíveis neste vinho são Syrah, Malbec, Merlot e Cabernet Sauvignon. Todas – exceto talvez a Malbec – são uvas clássicas, que fizeram fama e fortuna em solos franceses, cultivadas globalmente por quase todos os grandes produtores do novo mundo. a Malbec faz parte da mistura de um grande número de Bordeaux, mas virou a uva símbolo da Argentina, pois se adaptou super bem em Mendonza e combina perfeitamente com churrasco e não se espalhou muito pelo mundo. Mas isso é outro papo.

É um bom exercício para aprender a escolher o seu tipo de uva favorita e também treinar os sentidos, escolher um vinho de cada uva de um bom produtor, sugiro o próprio Finca Flichman básico ou - num patamar acima de preço o Caballero de la Cepa do mesmo produtor ou o Finca la Linda da Bodega Luigi Bosca, mas qualquer bom produtor pode servir. Reúna alguns casais – bons de copo, um para cada garrafa - em torno de uma boa mesa e vá experimentando vinho após vinho, tendo sempre o cuidado de não misturar os vinhos na taça e não comer alimentos que briguem com os vinhos, tipicamente saladas com vinagre, ovos, alcachofra... Sugiro que siga a seguinte ordem: Merlot, Cabernet, Syrah e Malbec. Sinta o perfume de cada uma, veja a cor, o gosto no final da boca, sobre a língua, a harmonia com os pratos servidos. Faça anotações a cada tipo de vinho, pois depois da quarta garrafa vai ser difícil lembrar do primeiro...

Naturalmente esse exercício não é definitivo com apenas um produtor ou vinhos de uma única origem, pois há diferenças entre os produtores e mesmo a especialidade destes em relação aos tipos de uvas. Na Argentina reina o Malbec, no Chile o Cabernet e a Carmenère...

Logicamente existem muitas outras uvas, e deixar de fora a Pinot Noir chega a ser um crime, mas como a Pinot Noir é uma uva temperamental (exige cuidados muito especiais no seu cultivo) e não é muito fácil encontrar bons Pinot Noir a preços acessíveis, vamos deixá-la para depois. E para começar, essas quatro populares no Brasil são um bom ponto de partida.

O grande problema é perceber que todas são excelentes, cada uma do seu jeito claro...

Depois me conte o que achou do experimento.